segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Pensamento, por J.R. Maran


Não sou mais escravo do que me fizeram ser. Sou escravo do que quero me tornar.

domingo, 26 de agosto de 2012


Coerência, postado por J.R. Maran


Por que nos cobram coerência
Se a cada momento somos um?
Diferente, uma nova tela a ser pintada...

Hesitante, moderado, pacífico
Atirado, esquizofrênico, agressivo
Me calo e grito
Escondo-me e exibo-me

Por que nos cobram coerência?
Se a cada dia o homem do espelho
Tem novas marcas no rosto?

A única coerência que me permito
É a do coração
Porque meu amor por você
É o que os diferentes eus
Têm em comum

sexta-feira, 24 de agosto de 2012


Se eu pudesse mudar algo..., por J.R. Maran


O garçom se aproxima.

- Boa noite.
- Fala, amigo. Me traz um croquete, por favor. Depois a gente pede mais alguma coisa...

Ela fica calada. Olhando para ele. Estática. Ele finge que não percebe e olha o cardápio. O garçom traz o croquete. Ele pega e dá uma mordida.

- Eu não acredito! Você é muito egoísta mesmo. Só pensa em você! Chega, senta, pede e nem pensa em mim! Meu Deus, eu não sei como te aturo... Depois de quinze anos de casados, você só consegue piorar!! Como é que pode ser tão insensível? Primeiro, você! Você! Você! Sempre assim. Só você!! Engole este croquete! Tomara que você se engasgue e morra! Será que você não se toca de que deveria dar um pouquinho de atenção para mim? Eu que sou...

Ela continua falando. O pedaço do croquete continua na boca dele, ele não consegue nem mastigar. Fica observando a mulher falando, falando... Só consegue pensar:

- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de consertar tudo isso. Se eu pudesse voltar no temp...

PLIM!

O garçom se aproxima.

- Boa noite.
- Fala, amigo. Me traz dois croquetes, por favor. Depois a gente pede mais alguma coisa...

Ela fica calada. Olhando para ele. Estática. Ele finge que não percebe e olha o cardápio. O garçom traz os croquetes. Ele pega um e dá uma mordida.

- Eu não acredito! Você parece que não me conhece. Aliás, você não me conhece mesmo!! Chega, senta, pede e nem sabe do que eu gosto ou não gosto! Meu Deus, eu não sei como te aturo... Depois de quinze anos de casados, você só consegue piorar!! Como é que pode ser tão insensível? Desde quando eu como croquete?!?! Você quer me obrigar a gostar do que você gosta... É sempre assim. Engole este croquete! Tomara que você se engasgue e morra! Será que você não se toca de que deveria dar um pouquinho de atenção para mim? Eu que sou...

Ela continua falando. O pedaço do croquete continua na boca dele, ele não consegue nem mastigar. Fica observando a mulher falando, falando... Só consegue pensar:

- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de consertar tudo isso. Se eu pudesse voltar no temp...

PLIM!

O garçom se aproxima.

- Boa noite.
- Fala, amigo. Deixa os cardápios, que a gente vai dar uma olhada. Depois a gente pede mais alguma coisa...
- Claro, senhor. Fiquem à vontade.

Ela fica calada. Olhando para ele. Estática. Ele finge que não percebe e olha o cardápio.

- Eu não acredito! Você parece que não está casado comigo há quinze anos... Aliás, eu acho que você não está mesmo casado comigo! Você não me conhece mesmo!! Chega, senta e é incapaz de saber o que eu sempre peço, há quinze anos!!! Meu Deus, eu não sei como te aturo... Depois desse tempo todo, você só consegue piorar!! Como é que pode ser tão insensível? Há quanto tempo nós freqüentamos este bar? O que eu sempre peço? Você sabe? Você lembra? É claro que não!! Você não sabe, porque você não presta atenção em mim!

Ela continua falando. Ele não entende o que está acontecendo. Qual a razão deste ataque de nervos? Fica observando a mulher falando, falando... Só consegue pensar:

- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de consertar tudo isso. Se eu pudesse voltar no temp...

PLIM!

O garçom se aproxima.

- Boa noite.
- Fala, amigo. Traz seis chopps, uma porção de croquetes e uma de batata frita. Valeu? Acelera os chopps que o jogo hoje foi difícil!!
- É isso, aí, Betão! Chopinho pro melhor time do aterro! E traz também um maço de Hollywood Ligth!
- Vamo lá, Beto! Para de escrever e traz logo os chopps, rapaz! Há vinte e cinco anos que a gente vem aqui e você ainda precisa escrever os pedidos?!?

Todos gritam:

- Betão, Betão, Betão... O melhor garçom do Rio de Janeiro! Viva o Betão!

Ele olha ao redor... Procura por alguém que não consegue identificar... Vê os companheiros tocando o zaralho no boteco! Todos riem e zoam uns aos outros. Ele pensa:

- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de conservar tudo isso. Se eu pudesse voltar no tempo, não mudaria nada... Obrigado!

Aparências, por Adriana. E ponto.

        Parou em um boteco. Nenhum atendente lhe deu atenção. Uma moça encostou no balcão e pediu um suco. O atendente distraiu-se por um instante com a tatuagem no dorso da mão que ela tentava esconder puxando a manga da blusa.
        — É uma borboleta?
        — Não. Um elefante.
        — A senhora pagou para um tatuador fazer um elefante parecer uma borboleta?
        — Não. Eu pedi um elefante, mas todo mundo acha que é uma borboleta.
        — Puxa, que azar, hein?
        — Azar, nada. Foi sorte.
        — Sorte?
        — É. Sorte de me livrar dele.
        — Dele quem? Do elefante?
        — Não, de me livrar do ex. O tatuador era namorado na época. Eu não queria fazer a tatuagem, mas ele acabou me convencendo. Na véspera tivemos uma briga horrível. Ele deformou o elefante só de raiva.
        — Toda vez que a senhora olha para a borboleta se lembra da briga?
        — Elefante. Para mim sempre vai ser um elefante.
        O homem que assistia a tudo, até então calado, bateu com a chave de casa no vidro do balcão.
        — Estou há 5 minutos esperando alguém me atender, e todo mundo fica para lá e para cá sem olhar para a minha cara. Para piorar, esse cidadão ainda fica perdendo tempo com borboleta.
        A moça apertou os lábios.
        — Elefante. E-le-fan-te. Quer saber? Nem provei o suco e já não gostei. Pode cancelar o pedido.
        — Mas, moça, o suco já está pronto.
        O homem olhou para o copo e guardou a chave no bolso.
        — Me passa o suco. Essa pizza aí está quente?
        — Está morninha.
        — Então, me vê quatro do que estiver mais quente e embrulha para viagem. Minha mulher está esperando em casa e vocês já me fizeram esperar mais do que devia.
        Bebeu três goles do suco e afastou o copo. Pegou um punhado de moedas no bolso e colocou no balcão. Saiu sem esperar o atendente terminar de conferir o dinheiro.
        Foi caminhando apressado com o embrulho na mão, olhando os ônibus que passavam quase vazios. Segunda-feira à noite, a cidade ainda carregava a preguiça do domingo.
        Viu seu ônibus passando. Fez sinal. Não era ponto, e o motorista não parou. Parou para investigar no bolso se tinha dinheiro trocado para o ônibus. Remexeu no bolso da calça e percorreu com os dedos as notas do pagamento do mês. Puxou a primeira e olhou: uma nota de dez. Colocou-a no bolso da camisa para pagar a passagem.
        Notou que o ônibus que passava ainda não era o seu. Ouviu um assovio a uns passos de distância. Devia ser alguém fazendo sinal para o motorista, mas o ônibus não parou. Mais uns minutos, outro assovio. Nenhum ônibus adiante. Uma sombra se aproximava. Apertou o passo. Olhou novamente para a sombra, que não parecia ser alguém corpulento, mas uma protuberância naquela mancha preta chamou sua atenção.
        Começou a suar frio. Teve vontade de correr, mas apenas acelerou o passo. A sombra acompanhava o seu ritmo. Novo assovio. Definitivamente, era com ele. Gelou. Nada de ônibus. Nada de gente por perto. Nada de coragem de correr. Finalmente, a sombra o ultrapassou. Sua cor havia escoado. A sombra era um menino com uma garrafa na mão que, de súbito, pôs fim ao tormento:
        — Tio, me dá um cocrete?

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fiquei te olhando por toda a minha vida e acabei não vendo a vida passar.

Postado por J.R. Maran

domingo, 19 de agosto de 2012

Fechamento de capítulo, por Ana Abreu

        Tenho poucas horas. Só duas, na verdade. Tenho que correr. Preciso me concentrar. Foco, foco. Remem, remem, diria meu amigo que rema. Mas eu não remo, não sei remar, até já tentei, mas não tenho força suficiente no braço. Também tenho medo da canoa virar. Especialmente na praia da Urca, com aquela água imunda! Se a canoa vira e você tem a sorte de não beber aquela água, pode se arranhar e ter uma infecção. Agora, se beber... Hepatite A. Quantos adultos são vacinados contra Hepatite A? Poucos, porque não era do calendário obrigatório. Mas, se você já ferrou seu fígado com hepatite B ou C, provavelmente teve o privilégio de receber a vacina da A. Quem já tem um tipo de vírus recebe a vacina contra o A. Mas eu não tenho, nem nunca tive, nenhum vírus da hepatite. E não quero ter.
        Remem!!! Duas horas? Não, uma hora e cinquenta e três minutos. Vamos lá, neurônios criativos, o que acontece agora? Ok, por partes: a mocinha já descobriu quem é seu verdadeiro pai. E se eu criar um final como daqueles livros que eu lia na adolescência? Que você pode escolher o que acontece? Se você acha que o herói conseguiu conquistar a gostosona em breve vai ficar a maior baranga, pule para a página 37. Mas, se você acha que a moça na verdade era o Drácula disfarçado, que mordeu o herói e fez dele seu escravo por toda a eternidade, vá para a página 45. Pronto, assim eu invento vários finais improváveis e o problema é do leitor. Ele que se vire e escolha o seu. Afinal, as pessoas não gostam tanto dessa coisa metida de interatividade? Querem interagir? Então pronto, interajam aí e resolvam essa droga!
        Daí a menina descobriu quem é seu verdadeiro pai. E ela estava apaixonada por ele. Não chegaram a se envolver, era uma paixão platônica, mas foi uma revelação e tanto! Ponto de virada total! Atravessou o umbral, adeus mundo comum... Mas toda filha não é um pouco apaixonada platonicamente pelo pai? Putz... Tosco. Mas se ela vai continuar apaixonada pelo mesmo cara, com a diferença de que ele é seu pai, eu até que dei uma força, né? Agora ela vai conviver mais com ele, quem sabe até vão morar juntos... Isso, fui um cara bacana com esse personagem. Dizem que o universo conspira? Então, eu, a título de Criador desse universo, conspirei também. E acho mesmo que ela merece. Uma menina meiga, de coração puro, linda, linda, inteligente, sagaz... Não, eu não vou voltar um capítulo atrás e decidir que não era ele o pai dela. Não mesmo.
Péra aí que vou abrir uma cerveja pra me inspirar. Ficar mais criativo. Mas só uma, que depois de duas já era. Só sai bobagem.
        Vaca, aquela mulher era uma vaca, vagabunda.... Não tem moral, caráter, integridade, nada! Trocar o próprio marido pelo professor de pilates? Pilates não, mat pilates, como ela adorava me corrigir. Aquele veadinho, inspira na ida, expira na volta, foco no abdômen, olha o centro da força, vamos equilibrar o chacra sacral? Que porra de chacra sacral, caralho! Pô... Me dediquei tanto a esse casamento. Caramba, anos de fidelidade, carinho, conchinha.... Sabe quantos homens topam isso? Pois é, nem eu sei. Agora, quantos homens são corneados como eu? Incontáveis, né? Cara... Isso não é justo... Essas mulheres são todas umas mal amadas, recalcadas, que não sabem receber carinho de um homem digno como eu! Quer saber? De volta pro capítulo 3 que não vou dar força pra personagem porra nenhuma! Já tá na hora? Cara, eu.... Alô? Não, não deixa subir não. Não, também não tem nada na portaria pra ela. Diz que... tô doente. Não, que minha mãe ficou doente em Minas e que eu viajei na sexta e ainda não voltei. Valeu, Cícero. Depois te pago aquela cerveja.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

a insanidade bate à sua porta, por J.R.Maran

    Ela desliga o despertador. Quatro e meia da manhã. Não pestaneja. Levanta-se, banha-se, escova os cabelos e os dentes. Nada meticuloso. Sem excessos. Como faz todos os dias. Vai para a cozinha. Acende um cigarro e começa a preparar marmitas e café da manhã.

    Enquanto a água está a ferver, ela se dirige ao quarto novamente. Já são dez para as cinco. Cláudio! Acorda! Ele segue o mesmo ritual que ela. Automático. Quase robótico.

    Encontram-se novamente na cozinha. O café está pronto e o cheiro toma conta da casa. Nada como um café feito em coador de pano. Ele a beija na testa. Bom dia, filha. Bom dia, amor. Ele senta-se para tomar o café.

− Hoje o dia vai ser uma loucura. O Pedrão se machucou ontem e o Zeca ainda não voltou por causa da apendicite. Vou ter que fazer tudo com os estrupícios do Carlos e do Manguinho. A obra vai atrasar.
− E a dona? Tá no teu pé?
− Claro. Ela quer se mudar este fim de semana... Disse que vai entregar o apartamento antigo. Vamos ver...
− Falta muito?
− Não, pouca coisa, mas demorada, né? Acabamentos, pequenos acertos, limpeza...
− Vai dar tudo certo. Quer que eu vá prá lá quando sair da casa da Don’Ana? Posso te ajudar na limpeza.
− Acho que não vai precisar. A gente se fala mais tarde. Me liga quando sair de lá que eu te aviso se vai precisar ou não, tá?
− Falou.
− Tô indo. Acorda o Bielzinho daqui a pouco prá ele ir prá faculdade. Deixa um dinheirinho prá ele, tá?

    Ela se dirige até o marido. O beija na boca. Te amo. Té mais tarde. Sai. Ele acaba o café. Grita:
Gabriel!! Tá na hora! Levanta-se, pega a marmita e a coloca na mochila. Vai até a porta da cozinha e escuta o chuveiro sendo aberto.

− Tô indo! Bom dia.

    Sem resposta.

...

    Ela está no ônibus. O sol ainda nem se pronunciou e não tem um lugar para sentar. Que bosta de transporte público! Ainda vou ter o meu carrinho e me livrar deste cecê de ônibus... A viagem está apenas começando. São pelo menos duas horas até a casa de Don’Ana. Como eu queria sentar e aproveitar para dormir um pouco! Sem chances. Vai ter que aturar a viagem em pé até o metrô. Lá, talvez, consiga um lugar para sentar.

...

    Ele pega o carro que demora a pegar por causa do frio. O material para a obra já foi todo colocado na caçamba no dia anterior. Pensa em chamar o Gabriel para dar uma empurrada e aí o possante resolve pegar. Lei de Murphy... Passa na casa dos estrupícios e se espremem todos na cabine. Mais um dia de luta pela frente...

...

− Don’Ana!
− Diga, Ju.
− A senhora se importa se eu sair um pouquinho mais cedo prá ajudar o Cláudio a terminar uma obra?
− Se você deixar tudo certinho para quando eu chegar... Sem problemas.
− Obrigada, Don’Ana! A senhora é gente boa mesmo! Eu vivo falando isso pro Cláudio. Obrigada.
− De nada. Estou indo. Beijos!
− Vai com Deus, Don’ana!

...

    A polícia chega. Uma multidão se ajunta na calçada. Os policiais abrem caminho. O corpo está estendido no chão.

− O que aconteceu?
− Ele estava limpando a janela e se desequilibrou.
− De qual apartamento? Já sabem?
− Era daquele ali. O porteiro disse que é o 701.
− E os donos já apareceram?
− O porteiro disse que o apartamento está em obra e que os moradores só viriam fim de semana.
− Cadê o porteiro?
− Está lá dentro conversando com o síndico.

    Os policiais procuram o porteiro. Ele aparece na companhia do síndico.

− Você sabe se ele estava sozinho no apartamento?
− Não, tinha dois ajudantes com ele. Eles saíram correndo. Desesperados. Quando viram o patrão no chão! Começaram a gritar desesperados e correram.
− Eles não tentaram nada? Não chamaram ninguém?
− Não. Eles saíram gritando e chorando!
− Você acha que ele caiu ou pode ter sido jogado?
− Pelos garotos? Nunca. Eu acho que não. A gente conversava muito. Eu tava sempre na obra. Os meninos adoravam o Cláudio. Ele era como um pai para eles.
− ‘Qual’ os nomes e as idades dos garotos?
− Carlinhos e Manguinho. O nome do Manguinho eu não sei... Só chamavam ele assim. Devem ter uns 30 anos...

...

    O dia foi puxado. Ela trabalhou dobrado para ter tempo de ir ajudar o marido, mas pensa: Hoje à noite vou fazer um jantar caprichado. Prá mim e prá ele! E depois... Aproveitar que o Biel vai dormir na casa da namorada... Hoje vai ter! Faz movimentos sensuais. Ri alto. Grita “de prazer”. A roupa está lavadinha. A faxina, pronta. A janta, na geladeira para quando Ana voltar. Pega o celular e liga para Cláudio. O telefone toca.

− Alô? Quem está falando? Este telefone é do Cláudio?

...

    O telefone toca. O policial mais próximo pega o celular no bolso do morto.

− Caraca, caiu do sétimo andar e ainda funciona? Celularzinho bom... Alô? Se este telefone é do Cláudio?

    O policial grita para o outro: Ei, o nome dele era Cláudio? O porteiro grita que sim.

− Era sim senhora! A senhora era o que dele? Esposa. Qual o seu nome? Pois é, minha senhora, eu tenho uma notícia desagradável... Tem alguém com a senhora aí com que eu possa falar? Não? Então...

...

− Cris, há três meses que você está trabalhando aqui. Você teve alguma notícia da Ju?
− Ih, Don’Ana... Coitada, né? Que tragédia. Dizem que ela ficou maluquinha! Lelé da cuca! A Dona Gertrudes, que mora perto da mãe dela – a que cuida do filho dela agora –, disse que nunca mais ‘viram ela’. Outro dia, uma vizinha disse que ‘viu ela’ num orelhão. Maltrapilha. Gritava e gesticulava que nem maluca. Parecia uma ‘mendinga’. Disse que ela brigava com o Cláudio, como se ele estivesse vivo. Falava para ele voltar logo, que tinha feito um jantarzinho para os dois e que à noite “ia ter”, se é que a senhora me entende...
− Meu Deus! Uma pessoa tão boa. Uma família tão boa...
− Pois é! É a vida, na Don’Ana? Um dia aqui, outro na cova...

...

− Cláudio, que horas ‘cê vai chegar, hoje? Não quero saber, Cláudio. Deixa pra terminar amanhã e vai cedo para casa. Cláudio, você não me ama mais? Tá com alguma vagabunda? Seu desgraçado. Tu e aqueles putos dos estrupícios... Foram eles que te levaram para o mau caminho. Sabia que o Manguinho morreu trocando tiros com a polícia?? É! Entrou pro tráfico e se fudeu, aquele filho da puta! O Carlinhos virou pastor e pega dinheiro de todo mundo lá no morro. É igual a traficante, os dois vendem ilusão... Outro filho da puta! Cláudio, eu te quero em casa hoje! Às sete horas em ponto! Volta para mim, amor! Eu te amo! Estou te esperando! Por favor! Seu desgraçado! Eu te amo! Volta pra mim! Volta, Cláudio! Por favor. Eu não sei viver sem você! Eu vou te enfiar a porrada, seu merda. Em você e nesta vagabunda com que m você fugiu... Eu vou matar os dois! Volta, amor. Volta...