domingo, 19 de agosto de 2012

Fechamento de capítulo, por Ana Abreu

        Tenho poucas horas. Só duas, na verdade. Tenho que correr. Preciso me concentrar. Foco, foco. Remem, remem, diria meu amigo que rema. Mas eu não remo, não sei remar, até já tentei, mas não tenho força suficiente no braço. Também tenho medo da canoa virar. Especialmente na praia da Urca, com aquela água imunda! Se a canoa vira e você tem a sorte de não beber aquela água, pode se arranhar e ter uma infecção. Agora, se beber... Hepatite A. Quantos adultos são vacinados contra Hepatite A? Poucos, porque não era do calendário obrigatório. Mas, se você já ferrou seu fígado com hepatite B ou C, provavelmente teve o privilégio de receber a vacina da A. Quem já tem um tipo de vírus recebe a vacina contra o A. Mas eu não tenho, nem nunca tive, nenhum vírus da hepatite. E não quero ter.
        Remem!!! Duas horas? Não, uma hora e cinquenta e três minutos. Vamos lá, neurônios criativos, o que acontece agora? Ok, por partes: a mocinha já descobriu quem é seu verdadeiro pai. E se eu criar um final como daqueles livros que eu lia na adolescência? Que você pode escolher o que acontece? Se você acha que o herói conseguiu conquistar a gostosona em breve vai ficar a maior baranga, pule para a página 37. Mas, se você acha que a moça na verdade era o Drácula disfarçado, que mordeu o herói e fez dele seu escravo por toda a eternidade, vá para a página 45. Pronto, assim eu invento vários finais improváveis e o problema é do leitor. Ele que se vire e escolha o seu. Afinal, as pessoas não gostam tanto dessa coisa metida de interatividade? Querem interagir? Então pronto, interajam aí e resolvam essa droga!
        Daí a menina descobriu quem é seu verdadeiro pai. E ela estava apaixonada por ele. Não chegaram a se envolver, era uma paixão platônica, mas foi uma revelação e tanto! Ponto de virada total! Atravessou o umbral, adeus mundo comum... Mas toda filha não é um pouco apaixonada platonicamente pelo pai? Putz... Tosco. Mas se ela vai continuar apaixonada pelo mesmo cara, com a diferença de que ele é seu pai, eu até que dei uma força, né? Agora ela vai conviver mais com ele, quem sabe até vão morar juntos... Isso, fui um cara bacana com esse personagem. Dizem que o universo conspira? Então, eu, a título de Criador desse universo, conspirei também. E acho mesmo que ela merece. Uma menina meiga, de coração puro, linda, linda, inteligente, sagaz... Não, eu não vou voltar um capítulo atrás e decidir que não era ele o pai dela. Não mesmo.
Péra aí que vou abrir uma cerveja pra me inspirar. Ficar mais criativo. Mas só uma, que depois de duas já era. Só sai bobagem.
        Vaca, aquela mulher era uma vaca, vagabunda.... Não tem moral, caráter, integridade, nada! Trocar o próprio marido pelo professor de pilates? Pilates não, mat pilates, como ela adorava me corrigir. Aquele veadinho, inspira na ida, expira na volta, foco no abdômen, olha o centro da força, vamos equilibrar o chacra sacral? Que porra de chacra sacral, caralho! Pô... Me dediquei tanto a esse casamento. Caramba, anos de fidelidade, carinho, conchinha.... Sabe quantos homens topam isso? Pois é, nem eu sei. Agora, quantos homens são corneados como eu? Incontáveis, né? Cara... Isso não é justo... Essas mulheres são todas umas mal amadas, recalcadas, que não sabem receber carinho de um homem digno como eu! Quer saber? De volta pro capítulo 3 que não vou dar força pra personagem porra nenhuma! Já tá na hora? Cara, eu.... Alô? Não, não deixa subir não. Não, também não tem nada na portaria pra ela. Diz que... tô doente. Não, que minha mãe ficou doente em Minas e que eu viajei na sexta e ainda não voltei. Valeu, Cícero. Depois te pago aquela cerveja.

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