sexta-feira, 24 de agosto de 2012


Se eu pudesse mudar algo..., por J.R. Maran


O garçom se aproxima.

- Boa noite.
- Fala, amigo. Me traz um croquete, por favor. Depois a gente pede mais alguma coisa...

Ela fica calada. Olhando para ele. Estática. Ele finge que não percebe e olha o cardápio. O garçom traz o croquete. Ele pega e dá uma mordida.

- Eu não acredito! Você é muito egoísta mesmo. Só pensa em você! Chega, senta, pede e nem pensa em mim! Meu Deus, eu não sei como te aturo... Depois de quinze anos de casados, você só consegue piorar!! Como é que pode ser tão insensível? Primeiro, você! Você! Você! Sempre assim. Só você!! Engole este croquete! Tomara que você se engasgue e morra! Será que você não se toca de que deveria dar um pouquinho de atenção para mim? Eu que sou...

Ela continua falando. O pedaço do croquete continua na boca dele, ele não consegue nem mastigar. Fica observando a mulher falando, falando... Só consegue pensar:

- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de consertar tudo isso. Se eu pudesse voltar no temp...

PLIM!

O garçom se aproxima.

- Boa noite.
- Fala, amigo. Me traz dois croquetes, por favor. Depois a gente pede mais alguma coisa...

Ela fica calada. Olhando para ele. Estática. Ele finge que não percebe e olha o cardápio. O garçom traz os croquetes. Ele pega um e dá uma mordida.

- Eu não acredito! Você parece que não me conhece. Aliás, você não me conhece mesmo!! Chega, senta, pede e nem sabe do que eu gosto ou não gosto! Meu Deus, eu não sei como te aturo... Depois de quinze anos de casados, você só consegue piorar!! Como é que pode ser tão insensível? Desde quando eu como croquete?!?! Você quer me obrigar a gostar do que você gosta... É sempre assim. Engole este croquete! Tomara que você se engasgue e morra! Será que você não se toca de que deveria dar um pouquinho de atenção para mim? Eu que sou...

Ela continua falando. O pedaço do croquete continua na boca dele, ele não consegue nem mastigar. Fica observando a mulher falando, falando... Só consegue pensar:

- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de consertar tudo isso. Se eu pudesse voltar no temp...

PLIM!

O garçom se aproxima.

- Boa noite.
- Fala, amigo. Deixa os cardápios, que a gente vai dar uma olhada. Depois a gente pede mais alguma coisa...
- Claro, senhor. Fiquem à vontade.

Ela fica calada. Olhando para ele. Estática. Ele finge que não percebe e olha o cardápio.

- Eu não acredito! Você parece que não está casado comigo há quinze anos... Aliás, eu acho que você não está mesmo casado comigo! Você não me conhece mesmo!! Chega, senta e é incapaz de saber o que eu sempre peço, há quinze anos!!! Meu Deus, eu não sei como te aturo... Depois desse tempo todo, você só consegue piorar!! Como é que pode ser tão insensível? Há quanto tempo nós freqüentamos este bar? O que eu sempre peço? Você sabe? Você lembra? É claro que não!! Você não sabe, porque você não presta atenção em mim!

Ela continua falando. Ele não entende o que está acontecendo. Qual a razão deste ataque de nervos? Fica observando a mulher falando, falando... Só consegue pensar:

- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de consertar tudo isso. Se eu pudesse voltar no temp...

PLIM!

O garçom se aproxima.

- Boa noite.
- Fala, amigo. Traz seis chopps, uma porção de croquetes e uma de batata frita. Valeu? Acelera os chopps que o jogo hoje foi difícil!!
- É isso, aí, Betão! Chopinho pro melhor time do aterro! E traz também um maço de Hollywood Ligth!
- Vamo lá, Beto! Para de escrever e traz logo os chopps, rapaz! Há vinte e cinco anos que a gente vem aqui e você ainda precisa escrever os pedidos?!?

Todos gritam:

- Betão, Betão, Betão... O melhor garçom do Rio de Janeiro! Viva o Betão!

Ele olha ao redor... Procura por alguém que não consegue identificar... Vê os companheiros tocando o zaralho no boteco! Todos riem e zoam uns aos outros. Ele pensa:

- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de conservar tudo isso. Se eu pudesse voltar no tempo, não mudaria nada... Obrigado!

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