Se eu pudesse mudar algo..., por J.R. Maran
O garçom se aproxima.
- Boa noite.
- Fala, amigo. Me traz um croquete, por favor. Depois a
gente pede mais alguma coisa...
Ela fica calada. Olhando para ele. Estática. Ele finge que
não percebe e olha o cardápio. O garçom traz o croquete. Ele pega e dá uma
mordida.
- Eu não acredito! Você é muito egoísta mesmo. Só pensa em
você! Chega, senta, pede e nem pensa em mim! Meu Deus, eu não sei como te
aturo... Depois de quinze anos de casados, você só consegue piorar!! Como é que
pode ser tão insensível? Primeiro, você! Você! Você! Sempre assim. Só você!!
Engole este croquete! Tomara que você se engasgue e morra! Será que você não se
toca de que deveria dar um pouquinho de atenção para mim? Eu que sou...
Ela continua falando. O pedaço do croquete continua na boca
dele, ele não consegue nem mastigar. Fica observando a mulher falando,
falando... Só consegue pensar:
- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de consertar tudo
isso. Se eu pudesse voltar no temp...
PLIM!
O garçom se aproxima.
- Boa noite.
- Fala, amigo. Me traz dois croquetes, por favor. Depois a
gente pede mais alguma coisa...
Ela fica calada. Olhando para ele. Estática. Ele finge que
não percebe e olha o cardápio. O garçom traz os croquetes. Ele pega um e dá uma
mordida.
- Eu não acredito! Você parece que não me conhece. Aliás,
você não me conhece mesmo!! Chega, senta, pede e nem sabe do que eu gosto ou
não gosto! Meu Deus, eu não sei como te aturo... Depois de quinze anos de
casados, você só consegue piorar!! Como é que pode ser tão insensível? Desde
quando eu como croquete?!?! Você quer me obrigar a gostar do que você gosta...
É sempre assim. Engole este croquete! Tomara que você se engasgue e morra! Será
que você não se toca de que deveria dar um pouquinho de atenção para mim? Eu
que sou...
Ela continua falando. O pedaço do croquete continua na boca
dele, ele não consegue nem mastigar. Fica observando a mulher falando,
falando... Só consegue pensar:
- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de consertar tudo
isso. Se eu pudesse voltar no temp...
PLIM!
O garçom se aproxima.
- Boa noite.
- Fala, amigo. Deixa os cardápios, que a gente vai dar uma
olhada. Depois a gente pede mais alguma coisa...
- Claro, senhor. Fiquem à vontade.
Ela fica calada. Olhando para ele. Estática. Ele finge que
não percebe e olha o cardápio.
- Eu não acredito! Você parece que não está casado comigo há
quinze anos... Aliás, eu acho que você não está mesmo casado comigo! Você não
me conhece mesmo!! Chega, senta e é incapaz de saber o que eu sempre peço, há
quinze anos!!! Meu Deus, eu não sei como te aturo... Depois desse tempo todo,
você só consegue piorar!! Como é que pode ser tão insensível? Há quanto tempo
nós freqüentamos este bar? O que eu sempre peço? Você sabe? Você lembra? É
claro que não!! Você não sabe, porque você não presta atenção em mim!
Ela continua falando. Ele não entende o que está
acontecendo. Qual a razão deste ataque de nervos? Fica observando a mulher
falando, falando... Só consegue pensar:
- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de consertar tudo
isso. Se eu pudesse voltar no temp...
PLIM!
O garçom se aproxima.
- Boa noite.
- Fala, amigo. Traz seis chopps, uma porção de croquetes e
uma de batata frita. Valeu? Acelera os chopps que o jogo hoje foi difícil!!
- É isso, aí, Betão! Chopinho pro melhor time do aterro! E traz também um maço de Hollywood
Ligth!
- Vamo lá, Beto!
Para de escrever e traz logo os chopps, rapaz! Há vinte e cinco anos que a
gente vem aqui e você ainda precisa escrever os pedidos?!?
Todos gritam:
- Betão, Betão, Betão... O melhor garçom do Rio de Janeiro!
Viva o Betão!
Ele olha ao redor... Procura por alguém que não consegue
identificar... Vê os companheiros tocando o zaralho no boteco! Todos riem e
zoam uns aos outros. Ele pensa:
- Meu Deus, me ajude. Me dê a oportunidade de conservar tudo
isso. Se eu pudesse voltar no tempo, não mudaria nada... Obrigado!
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